quinta-feira, 25 de abril de 2019

A mulher que fez do cravo o símbolo do 25 de abril de 1974.



Em 1974 Celeste Caeiro tinha 40 anos e vivia num quarto que alugara ao Chiado, com a mãe e com uma filha que criava sem a ajuda do antigo companheiro. Trabalhava na rua Braancamp, na limpeza do restaurante Franjinhas, que abrira um ano antes. O dia de inauguração fora precisamente o 25 de Abril de 1973.

O gerente queria comemorar o primeiro aniversário do restaurante oferecendo cravos à clientela. Tinha comprado cravos vermelhos e tinha-os no restaurante, quando soube pela rádio que estava na rua uma revolução. Mandou embora toda a gente e acrescentou, como Celeste recorda na entrevista: "Levem as flores para casa, é escusado ficarem aqui a murchar".

Celeste foi então de Metro até ao Rossio e aí recorda ter visto as "chaimites" e ter perguntado a um soldado o que era aquilo. O soldado lhe falou da ideia de irem para o Largo do Carmo, onde Marcelo Caetano se tinha refugiado. O soldado, que já lá estava desde muito cedo, pediu-lhe um cigarro e Celeste, que não fumava, só pôde oferecer-lhe um cravo.

O soldado logo colocou o cravo no cano da espingarda. O gesto foi visto e imitado. No caminho, a pé, para o Largo do Carmo, Celeste foi oferecendo cravos e os soldados foram colocando esses cravos em mais canos de mais espingardas.

As G-3 assim enfeitadas ajudavam o povo a distinguir as tropas amigas. Era mais um motivo para não fazer caso dos repetidos apelos dos capitães a que os civis permanecessem em casa, mais um motivo para vir para a rua e para confraternizar com a tropa libertadora. "Afinal, em vez de dar tiros, as espingardas tinham flores", diz Celeste Caeiro.



Fonte RTP

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